quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Reabilitação perineal


Exercício íntimo combate incontinência e problemas sexuais no pós-parto; conheça técnica. Reabilitação perineal é prescrita de forma rotineira a mulheres no pós-parto na França. No Brasil, acesso a técnica ainda é limitado, mas interesse tem crescido.


Exercício íntimo combate incontinência e problemas sexuais no pós-parto; conheça técnica

Fontes de grande desconforto e constrangimento após o parto, a incontinência urinária, a incontinência fecal e o prolapso dos órgãos pélvicos – problema também conhecido como “bexiga caída” – podem ser tratados e até prevenidos por meio de exercícios simples, orientados por um fisioterapeuta: é a chamada reabilitação perineal.

A técnica, recomendada rotineiramente em países como França, Holanda e Bélgica, ainda é pouco conhecida no Brasil.

O períneo é o conjunto de músculos que ficam na base da pelve e sustentam, na mulher, a uretra a vagina e o ânus, além da bexiga e do útero. Esses músculos têm um papel fundamental no controle da urina e das fezes, nas relações sexuais e no nascimento dos bebês. É justamente na gravidez, quando a mulher passa a carregar um peso extra no ventre, que a sobrecarga pode levar a esses problemas.

Durante e após a gravidez

A técnica pode ser feita durante a gestação e após o parto. Durante a gravidez, envolve principalmente exercícios de contração e relaxamento do períneo com o auxílio de um instrumento que, introduzido na vagina, detecta os movimentos dos músculos. O objetivo é fortalecer os músculos da região para que ele suporte o peso extra do bebê e não se danifique. É indicado tanto para mulheres que pretendem fazer parto normal quanto cesárea.

Para quem busca o parto normal, a rotina também inclui técnicas de alongamento dos músculos da vagina. Uma delas é a massagem perineal, que pode ser feita manualmente pelo fisioterapeuta, pela própria paciente e até por seu parceiro. A outra é o uso do Epi-No, um balão de silicone conectado a uma bomba de ar que é introduzido na vagina. Ele é inflado de forma gradual para simular a passagem do bebê pelo canal vaginal e possibilitar que a mulher treine a força que terá de fazer durante o parto.

Cerca de um mês e meio depois do nascimento do bebê, a reabilitação é prescrita de forma personalizada, mas pode envolver os mesmos exercícios de contração e relaxamento, além de uma técnica de eletroestimulação, que serve para “acordar os músculos”.


Exercícios do períneo podem ser feitos durante e depois da gravidez (Foto: REUTERS/Regis Duvignau)

Mulheres grávidas e, em alguns casos idosas, nunca passam por eletroestimulação. “A técnica é recomendada para as pacientes que perderam a sensação de contração. É uma estimulação leve, que permite obter uma resposta muscular e um relaxamento. Ela é feita para ‘acordar os músculos’. Não dói nunca. Uma vez que a paciente reaprende a fazer esse movimento, a gente diminui paulatinamente”, explica o fisioterapeuta francês Loïc Dabbadie, que trabalha há 38 anos com reeducação do períneo.

Brasil x França

“No Brasil se fala pouco do assunto, nem todo mundo conhece. Existe muito mais nos serviços particulares ou para quem tem convênio. Ainda não é tão acessível”, diz a fisioterapeuta Laira Ramos, especialista em reabilitação perineal que atua em São Paulo.

Já na França, todas as mulheres têm direito à reeducação perineal após ao parto. “Toda francesa tem direito a 10 sessões de reeducação, que são totalmente custeadas pelo sistema público. Isso vale tanto para as mulheres que tiveram um parto natural como uma cesariana (que na França significa 17% dos partos)”, afirma Dabbadie. Para a maioria das mulheres, 10 sessões são suficientes. Se forem recomendadas mais, o sistema público cobre uma parte do custo e a paciente, a outra.

A assistente social francesa Coline Barrois, de 29 anos, fez os exercícios íntimos nas duas gestações. “Na primeira gravidez, eu fiz exercícios com uma grande bola para facilitar o parto, principalmente após o início das contrações. Você se apoia mexe a bacia, isso ajuda a relaxar o períneo. Depois eu fiz as sessões de reeducação”, conta.

Após os dois partos, ela fez os exercícios de contração e relaxamento com ajuda da sonda. “A sonda é conectada a um computador. Você vê um carrinho no monitor. Assim, a pressão que você faz com o períneo é mostrada na tela. É preciso que você faça com que ele desça ou suba na tela de acordo com a sua contração.”

Coline conta que depois de 10 sessões ela já viu os resultados. “O exercício permite de colocar os músculos em forma. Na França, quando você está na segunda gravidez, além das 10 sessões de exercícios para a reeducação do períneo, você pode fazer também as 10 sessões para o abdome”, conta.


Modelo anatômico mostra como é a estrutura dos músculos do períneo em uma mulher (Foto: Rafael Leal/G1)

O que diz a ciência

Há diversos estudos clínicos que já avaliaram o impacto da reabilitação perineal no tratamento e prevenção de incontinências e prolapso dos órgãos pélvicos. A Sociedade Internacional de Incontinência recomenda os exercícios do períneo como uma das estratégias iniciais de tratamento contra incontinência e também de prevenção primária contra o problema em grávidas e mulheres no pós-parto.

De acordo com o ginecologista Alberto Trapani Junior, presidente da Comissão de Assistência ao Parto, Abortamento e Puerpério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), os exercícios geralmente são recomendados no Brasil caso esses sintomas persistam depois de três meses do parto. Quanto à eficácia da estratégia como prevenção, antes de os problemas aparecerem, as evidências científicas são mais fracas, segundo o especialista.

“Não existe um grau de evidência significativo de que esses exercícios, durante a gravidez, poderiam prevenir lesões de períneo que possam levar à incontinência”, diz Trapani Junior. “Não recomendamos rotineiramente esse tipo de atividade como algo essencial.” Ele afirma, no entanto, que as técnicas não têm contraindicações nem riscos desde que a mulher não esteja com dores ou infecção e que a atividade seja acompanhada por um fisioterapeuta.

Preparo para a segunda gravidez

A fisioterapeuta Mariana Mazzei, especialista na área, conta que a procura pela reabilitação perineal começou a se expandir no país nos últimos dois anos, de carona com a tendência crescente de priorizar a escolha pelo parto normal.

Ela conta que é muito comum acontecer de a mulher ter incontinência após o primeiro parto e isso ser naturalmente revertido em alguns meses. Na segunda gravidez, porém, a incontinência começa já durante a gestação, pois a musculatura do períneo já estava enfraquecida.

Engenheira Lídia Sarantopoulos começou a fazer reabilitação perineal após primeira gestação (Foto: Lídia Sarantopoulos/Arquivo pessoal)

Foi nesse contexto que a engenheira Lídia Sarantopoulos, de 31 anos, procurou Mariana, depois de ter incontinência urinária no final da primeira gravidez e no pós-parto. “O exercício estimula muito a consciência corporal. Eles vão trabalhando a contração e o relaxamento do períneo, além das técnicas de respiração. Tudo isso ajuda no fortalecimento de todo o assoalho pélvico e do abdômen”, conta Lídia.

A engenheira continuou as sessões durante e após a segunda gravidez e, desta vez, ela não teve incontinência. Além da prevenção desse problema, ela avalia que o método fez com que seu segundo parto fosse mais tranquilo. Seus dois bebês nasceram por parto normal. “Foi muito mais rápido do que o primeiro, o que já é esperado para o segundo filho. Mas a consciência corporal que eu tinha por causa dos exercícios me ajudou demais.”

Em casa

Coline prosseguiu fazendo uma parte dos exercícios após as sessões de reeducação. “Eu faço regularmente sessões de 10 contrações. Não são exercícios difíceis. Faço também faço os exercícios para o abdome para criar músculos. Estou pensando no futuro, mas também, é claro, para ajudar a não ter barriga”, conta.

Dabbadie alerta que é possível fazer alguns dos exercícios em casa, porém é preciso ficar atento. “Com frequência a gente encontra materiais na internet com exercício que se pode fazer em casa. Eu só aconselho às mulheres que já fizeram a reeducação, serviria como um complemento muito útil. Só que esse tipo de material não substitui uma sessão orientada por um profissional”, afirma.

Benefício sexual

A reabilitação perineal traz outro benefício: facilita a retomada da vida sexual após o parto. “Muitas mães no pós-parto têm dor durante a relação porque cortaram ou estiraram o músculo. A reabilitação contribui para que elas voltem a ter sexualidade mais agradável”, diz Laira Ramos.

Coline afirma que quem fez costuma recomendar a reeducação do períneo. “Eu recomendo fazer os exercícios por vários motivos. Depois que você dá à luz a vagina e o períneo ficam mesmo dilatados. A reeducação é um momento especial porque você acabou de ter uma criança e você vai tirar 30 minutos todas as semanas para cuidar de você, se reencontrar”, ressalta a assistente social.

Loïc Dabbadie ressalta os benefícios para a sexualidade dos exercícios. “As mulheres relatam que graças à tomada de consciência da sua musculatura perineal houve uma melhora enorme na sexualidade”, diz o fisioterapeuta francês. “Eu me lembro de ter perguntado a uma paciente se a contração perineal fazia com que a relação sexual fluísse melhor. Ela respondeu: ‘Olha, estou contente, mas o meu marido está muito mais’”, conta.

fonte

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/exercicio-intimo-combate-incontinencia-e-problemas-sexuais-no-pos-parto-conheca-tecnica.ghtml

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